sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Por muito pouco

O acontecimento que narrarei aqui aconteceu há alguns anos atrás e por motivo de manter um certo sigilo ou discrição, vou me ater apenas aos fatos sem mencionar data específica e nomes envolvidos.

Pensei bastante antes de fazer essa postagem, afinal poucas pessoas que convivem comigo sabem do fato que se segue:

Era noite de um sábado. Estava na casa de um conhecido conversando sobre um assunto que considerava pendente naquela data. Algo me incomodava em relação a um episódio que tinha acontecido entre nós dois e por isso mesmo estávamos tendo aquela conversa.

A noite avançava e a conversa já havia mudado de assunto. Estávamos descontraídos, pois tínhamos resolvido a questão, quando lá pelas dez da noite ouvimos um barulho de alarme de carro soando na rua. Tinha a certeza que era o do meu carro. Sem nenhuma demora, corri para ver o que estava acontecendo. Para que se tenha idéia, desci as escadas descalço como estava.

Chegando na rua percebi que a porta do meu carro estava arrombada. A sensação de ter um bem violado é totalmente frustrante. É revoltante como são frágeis essas portas de carro hoje em dia. Tem determinados veículos que a pessoa com as próprias mãos consegue empenar a porta.

Fiquei desnorteado a procura de quem havia arrombado meu carro. Olhava para os lados para ver se encontrava alguém. Já estava sem esperanças quando meu companheiro desceu as escadas para se encontrar comigo. Ele trazia consigo, por segurança, um revólver calibre 38. Esse foi o problema.

Sem pensar duas vezes, peguei a arma das mãos dele e fui até as esquinas à procura de alguém. Por não conseguir encontrar a pessoa, resolvi entrar no carro para ver se encontrava aquele bandido. Dirigimos por alguns quarteirões procurando algum suspeito. Não encontramos nada.

Ao voltarmos para casa, lembrei que pouco adiante tinha um lote vago no qual o bandido poderia estar escondido. Fui então naquela direção, sem me preocupar com as conseqüências. Entrei no meio do mato e por precaução mantive a arma engatilhada. Ali também não encontrei ninguém, mas talvez pela adrenalina da situação, me esqueci que o gatilho estava puxado. Num gesto de desânimo abaixei o braço tocando levemente a minha perna com a arma. Esse foi o início do meu próximo drama.

Uma arma engatilhada é extremamente sensível e um leve toque pode fazê-la disparar. Pois foi o que aconteceu. Aquele barulho ensurdecedor me assustou bastante e, se não bastasse o susto, ao olhar para o meu pé, percebi que o projétil havia acertado o meu próprio dedo. Que sensação ruim. Sem muito que fazer, corri para o carro, onde o meu companheiro me aguardava ao volante (aterrorizado, diga-se de passagem) e disse a ele apenas que precisávamos ir para o hospital. Ele não sabia o que falar, mas conseguiu me perguntar o que havia acontecido. Quando lhe contei partimos em direção ao hospital. Vou resumir um pouco daqui por diante, pois acabei passando por dois hospitais até chegar ao Madre Tereza (na Raja Gabaglia).

Se já não bastasse a situação toda, ainda tive que prestar esclarecimentos à polícia, uma vez que qualquer acidente envolvendo arma de fogo deve ser comunicado aos órgãos competentes. Tive que ouvir até piada dos policiais. Mas fazer o que? Tinha sido uma burrice mesmo. A minha esperança era que não fosse nada muito sério. Engano meu.

Ao verificar diversos raios X que foram tirados, o médico me disse que precisaria fazer uma cirurgia, pois o osso havia trincado e eu poderia correr um risco de infecção.

Bom, vou terminar por aqui (risos). O que se seguiu àquela notícia foi um pesadelo. Desde o fato de ter que avisar meus pais que eu estava no hospital (baleado), até a manhã do dia seguinte, ao término da cirurgia, os momentos foram uns dos piores da minha vida. Para não deixar de relatar, como seria óbvio, ouvi do meu irmão... “e aí artista, o que você aprontou dessa vez?”.


Até breve.

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